terça-feira, 16 de junho de 2009

SÁBADO AMARELO


O despertador não tocou e a cama está parcialmente vazia. A rua é bonita de se ver daqui da janela do quarto...
São 7:30 da manhã de um sábado amarelo. Daqui ouve-se o canto dos pássaros, homeopatia para a solidão. Um casal de idosos caminha no asfalto prolongando a vida; seguem sem pressa e sem assunto. Seguem em quatro, em dois, em um único ponto e sorvem na rua.
A janela está parcialmente suja. Que bom! Dessa forma vejo minha face neutra no meio da rua, no meio do quarto, no meio de mim.
Do outro lado da rua, as casas nuas fixamente olham para mim. Querem falar da vida, e do leiteiro que nunca passou. Elas me olham em contra-plongeé, mas agora não me sinto tão poderoso. Nascemos tarde demais...Ah! Como eu queria desnascer para voltar à luz em preto e branco como nos filmes de Chaplin. Eu queria mesmo era estar na década de 20, ser um gangster só para andar naqueles carros com capota de lona e rodas com colarinho branco. A vida assim seria mais elegante, mais poética, mais viva; bem melhor que o gosto amarelo deste sábado ordinário.


Corta para a sala de estar...

Marcus Leone

Um comentário:

  1. Sábado Amarelo é um poema que revela a saudade de coisas não vividas, estas coisas que habitam em nós quais símbolos reveladores, quiçá das coisas que podem vir a ser vividas no presente e a partir da interpretação destes símbolos que pairam adormecidos. Sábado Amarelo é de uma beleza pungente. E arreceba daí meu abraço.

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