segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O pensar antes

Olá, pessoal! Tudo bem?  

Textos imagéticos e sonoros, o fazer e os discursos audiovisuais que, contemporaneamente, nos cercam - sobretudo após o boom das redes sociais e no acesso das pessoas aos smartphones - estão em toda parte e cada vez mais vão sendo produzidos e se proliferando, muitas vezes, de forma indiscriminada. Isso vem acontecendo, independente dos realizadores, produtores em questão, serem profissionais da área de Comunicação e de terem conhecimento técnico, específico acerca de como planejar profissionalmente seus discursos em formato de vídeo. Isso, por um lado, pode ser interessante, se pensarmos que a possibilidade de produção e difusão desse conteúdo multimodal está cada vez mais ao alcance de muitas pessoas, mas também tem o lado ruim que perpassa, em muitos casos (facilmente encontrados na internet), pela falta de cuidado, reflexão crítica, relevância e planejamento acerca do que se quer comunicar e de como fazê-lo através do vídeo, ou seja: tal facilidade de produção e difusão acaba fazendo com que as pessoas negligenciem, no processo, o “pensar antes”. 


  https://www.flickr.com/photos/viniciuslhgirnys/8664740836


 Hoje, muitos querem discursar, contar histórias, promover debates, se mostrar (até com certo narcisismo), sensibilizar, fazer pensar e até educar através do vídeo. Okay, isso faz parte do contexto atual tecnológico, comunicacional e multissemiótico em que vivemos, contudo é importante refletirmos um pouco sobre o que vem antes do fazer/realizar audiovisual (apertar o rec), acerca do que queremos conceber, da pesquisa aprofundada, da relevância da produção em questão, considerando diversos contextos e, sobretudo, “como” queremos apresentar nossos discursos e também nos mostrar através deles. Muitas coisas devem ser consideradas no processo, nas etapas de produção de um vídeo, mas aqui e agora, pensemos um pouco no conceber, na “ideia” (no que queremos dizer) e no grande e importante guia do processo, no que é alicerce, no planejamento audiovisual que é o documento chamado “roteiro”. 

 https://www.youtube.com/watch?v=dDbWMFgzpJIFoto: Marcus Leone

Um bom conteúdo audiovisual sucede a “um bom combate”. Este envolve ideias, pesquisa, conversas, palavras, papéis em branco, paciência, persistência, escrita e reescrita... Ufa! Após tudo isso, eis, então, que podemos ter notícias preliminares de um roteiro. O que é? Para que serve um roteiro então? Seguem aqui duas definições sucintas, mas que começam a responder a pergunta anterior e nos fazem pensar um pouco sobre o tema:

Roteiro é uma história contada em imagens, diálogo e descrição, localizada no contexto da estrutura dramática (exposição – conflito – desfecho).” - Syd Field 
 
O Roteiro é uma história contada com imagens, expressas dramaticamente em uma estrutura definida, com início, meio e fim, não necessariamente nessa ordem.” - Chris Rodrigues

Além do que diz respeito à apresentação e construção de “narrativas” audiovisuais, o roteiro serve, dentre outras coisas, para balizar tecnicamente o trabalho da equipe de produção, prever e minimizar custos, possibilitar a pré-visualização e a execução plena, satisfatória do que será realizado. Dessa forma, fica claro que o planejar e o pensar antecipadamente, a pesquisa e o escrever (organizar um plano no papel) são fatores fundamentais para uma comunicação audiovisual bem feita e, sobretudo, relevante. Nesse sentido, a Rede Anísio Teixeira, durante o processo formativo Produção de Mídias na Educação (PME), tem compartilhado com docentes da rede pública estadual de ensino, através da criticidade e da contextualização, saberes e técnicas para a produção de mídias e conteúdos multimídia na Educação. Nesse processo, sempre e antes de qualquer produção, são sinalizados, potencializados e praticados, mediante pesquisas, discussões, escrita de desenhos pedagógicos e de roteiros, o planejar, o pensar criticamente antes, atitude esta que, principalmente entre profissionais da Educação, deve sempre ser um procedimento padrão, indispensável ao trabalho docente. É preciso ter sempre em mente que toda e qualquer produção bem feita e significativa é consequência de um bom planejamento prévio.

Professores cursistas da formação Produção de Mídias na Educação. Foto: Marcus Leone    
Entendo, efetivamente, que pensar antes é vislumbrar e começar a construir, com segurança, um caminhar firme em direção ao futuro. 

Pois é, companheiros, há muito ainda o que falar sobre os elementos estruturais, constituintes de um roteiro, mas essa conversa ficará para outro momento, certo? Vamos por partes. 

Até breve. Tchau!

Força e sensibilidade sempre!

RODRIGUES, Chris. O cinema e a produção. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.


Marcus Leone Oliveira Coelho é roteirista, produtor audiovisual e professor da Rede Pública de Ensino da Bahia

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Por que uma pedagogia dos multiletramentos?



Olá, companheiros!


Vamos refletir um pouco sobre produções textuais multissemióticas que envolvem discursos multimídia, e que, sobretudo entre os mais jovens, já fazem parte do contexto comunicacional contemporâneo.

É urgente que a escola do século XXI, pelo menos, pense e debata sobre uma “pedagogia dos multiletramentos”, ou seja, é preciso propor ações pedagógicas que potencializem a leitura, escrita e possibilidades comunicativas que considerem, com relevância, a multiplicidade cultural e semiótica presente em nossa sociedade.

  
No livro “Multiletramento na escola (2012)Roxane Rojo destaca e discute ideias muito importantes, que alicerçam os estudos e a necessidade de uma "pedagogia dos multiletramentos". Uma dessas discussões versa sobre as “culturas valorizadas versus culturas desvalorizadas”, ou seja, a cultura que, há tempos, a escola valoriza em primazia (a do impresso) versus a que está viva, pulsante no cotidiano, nas ruas, nas redes sociais e em outros espaços, que se manifesta em diversas semioses, no que diz respeito à interação social e construção de saberes, mas que ainda não é devidamente valorizada pela “escola”.



É importante que pedagogos e professores atentem e discutam sobre a conduta do estudante em valer-se de letramentos múltiplos em outros espaços de comunicação que orbitam a escola. Nesses ambientes, existem linguagens múltiplas, em que o enunciado pode se apresentar em diferentes gêneros e em diferentes esferas da atividade humana.
 

Estudantes em Produção de Mídias na Educação (PME)/Rede Anísio Teixeira - Foto: Peterson Azevedo
Práticas pedagógicas de multiletramento estão em consonância com as necessidades pedagógicas e comunicativas que nos impõe o momento atual. Nesse sentido, percebe-se que há uma necessidade urgente das escolas em se apropriar e desenvolver leituras e escritas, considerando tais letramentos, sobretudo no que tange o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC), das mídias e gêneros discursivos mais procurados e usados pelas pessoas no ciberespaço, sobretudo pelos mais jovens. Boa parte destes jovens, considerados nativos digitais, dispõem diuturnamente de dispositivos móveis para se comunicar, realizar tarefas escolares, se entreter (assistir a vídeos, ouvir música, jogar e interagir nas redes sociais) e, dessa forma, imersos no mundo virtual (ciberespaço), interagir socialmente de maneira, muitas vezes, inadequada e até perigosa. A escola precisa, de alguma forma, tomar partido disso, pois ela, ainda “presa” e muito preocupada com a leitura e escrita em sua vertente primária (no que se refere à cultura do impresso) acaba permanecendo à margem do contexto vigente das novas e das diversas possibilidades de leitura e escrita que estão se desenvolvendo no mundo contemporâneo e se tornando, então, cada vez mais desinteressante, obsoleta e ineficiente nos processos de ensino e aprendizagem e, sobretudo, em dialogar com os estudantes. Nesse sentido, os espaços de educação precisam trabalhar a leitura e a escrita confrontando gêneros textuais considerando suas diferentes formas, tanto estéticas quanto culturais. Deve-se valorizar, no contexto atual, que é muito do jovem estudante, os textos/hipertextos oriundos das novas tecnologias e do que, há muito, vem acontecendo fora dos muros escolares.


Formar cidadãos autônomos em uma sociedade cada vez mais tecnologicamente complexa, sem escamotear a cultura local e global é, sem dúvida, papel da escola. E para cumprir esse objetivo, o ensino deve mobilizar múltiplos letramentos, ou seja, abordar diferentes mídias, diferentes semioses, em contextos culturais diversos.(ROJO; MOURA; CUSTÓDIO, 2012, p.199).


É importante que a escola se perceba, efetivamente, na perspectiva contemporânea e entenda o impacto, a interferência e velocidade das novas tecnologias e suas linguagens na vida das pessoas, principalmente entre os mais jovens. Podemos considerar então que “a educação escolar precisa compreender e incorporar mais as novas linguagens, desvendar seus códigos, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações.” (MORAN, 2009, p.36).
Assim, podemos entender que a escola precisa desenvolver metodologias mais atuais, que, efetivamente, dialoguem com os estudantes, considerando a pluralidade cultural presente em cada sala de aula e atentando para a interação e imersão desses jovens no ciberespaço. É preciso potencializar o dialogismo, a colaboração e práticas de multiletramentos tanto no ambiente escolar quanto fora dele. Sigamos em frente!


 
Estudantes em Produção de Mídias na Educação (PME)/Rede Anísio Teixeira - Foto: Peterson Azevedo
É importante que pedagogos e professores atentem e discutam sobre a conduta do estudante em valer-se de letramentos múltiplos em outros espaços de comunicação que orbitam a escola. Nesses ambientes, existem linguagens múltiplas, em que o enunciado pode se apresentar em diferentes gêneros e em diferentes esferas da atividade humana.

Assim, podemos entender que a escola precisa desenvolver metodologias mais atuais, que, efetivamente, dialoguem com os estudantes, considerando a pluralidade cultural presente em cada sala de aula e atentando para a interação e imersão desses jovens no ciberespaço. É preciso potencializar o dialogismo, a colaboração e práticas de multiletramentos tanto no ambiente escolar quanto fora dele. Sigamos em frente! 


 
Estudantes em Produção de Mídias na Educação (PME)/Rede Anísio Teixeira - Foto: Peterson Azevedo



Não esqueçam de pesquisar mais sobre o tema. Sigam sempre em frente respeitando as diferenças!!!

Até a próxima!

Força e sensibilidade sempre!


Professor da Rede Estadual de Ensino, roteirista e produtor audiovisual.


REFERÊNCIAS

MORAN, José Manuel. Mudar a forma de ensinar e aprender com tecnologias. Disponível em: . Acessado em 10/12/2012.

MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 16ª ed. Campinas: Papirus, 2009, p.12-17. 

ROJO, Roxane; ALMEIDA, Eduardo de Moura (Orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012, 264 p. (Estratégias de ensino)



 

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Outras possibilidades de ver o mundo

Fig.1: Fita quebra-cabeças Símbolo do autismo: o quebra-cabeça representa a complexidade do autismo.



Olá, pessoal! Tudo bem?


Hoje, 02 de abril, é o dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. Nesse sentido, quero aqui, além de ajudar a divulgar essa informação, refletir um pouco sobre o assunto com vocês.


O que é o autismo? Como ele se manifesta e quais os tipos de tratamento? Como a questão tem sido discutida no Brasil? Enfim, pelo visto, são muitas as informações e as dúvidas também, não é? Por isso, é muito importante tomarmos conhecimento e dialogarmos, sempre que possível, sobre o tema. À medida que vamos obtendo informações e conhecendo o assunto, qualificamos nosso olhar para com o outro, para a aceitação das diferenças e também aprendemos a negar todo e qualquer tipo de julgamento, discriminação e preconceito nesse sentido. Vejamos o vídeo a seguir e pensemos um pouco sobre as diversas possibilidades de ver o mundo. Nesse contexto, o autista vê e sente o mundo de uma forma muito particular em relação a maioria das pessoas. E essa maneira de perceber o mundo não é nem melhor, nem pior, é simplesmente “diferente”.







E aí? Gostou do vídeo? Então, já dá para começarmos a entender um pouco sobre esse universo, certo? Realmente, não é fácil imaginar como o autista percebe o mundo, mas, nesse contexto, é preciso predisposição, paciência, sensibilidade e respeito para com o outro e para aceitar as diferenças. Isso possibilita que as relações interpessoais aconteçam e se desenvolvam da melhor forma.

Para avançarmos um pouco mais nesse entendimento, como podemos, então, definir o autismo? Segundo aAssociação de Amigos do Autista (AMA) da Bahia, o autismo está associado ao Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), expressão que muitos especialistas no assunto usam para descrever a dificuldade de interação social, de comunicação e comportamento que muitas crianças têm. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aborda o autismo como Transtornos Globais do Desenvolvimento (CID F84) onde são elencados alguns tipos de transtorno, tais como: Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Síndrome de Asperger, Transtornos Globais do Desenvolvimento, Autismo infantil, dentre outros. Dessa forma, indo além da visão simplista e não científica que a maioria das pessoas tem, entendemos que o autismo está para além da velha ideia de que “o autista é alguém que fica sempre na dele, que vive trancado em seu próprio mundo”. É preciso, realmente, considerar o espectro do autismo para entender a dimensão da questão, pois o mesmo é variável e envolve diferentes situações e manifestações comportamentais entre as pessoas que têm o transtorno.



http://ntn24ve.com/noticia/una-intervencion-anticipada-puede-mejorar-el-pronostico-del-autismo-segun-estudio-121189

Segundo a cartilha Direitos das Pessoas com Autismo da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, os sinais referentes ao transtorno se manifestam cedo, antes dos três anos de idade. Nesse sentido, os especialistas e o que está escrito, tanto na cartilha quanto nas Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) do Ministério da Saúde dizem que é muito importante o diagnóstico precoce, pois, dessa forma, é possível iniciar tratamentos que podem ajudar no desenvolvimento da criança, melhorando sua comunicação e socialização. Isso é tão sério que a presidência da república sancionou a Lei nº 13.438, de 26 de abril de 2017. Ela torna obrigatório, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a adoção de um protocolo que estabeleça padrões para a avaliação de riscos para o desenvolvimento psíquico das crianças com até 18 meses de idade.

Realmente, são muitas as questões que precisam ser conhecidas e discutidas sobre o autismo, e que um único texto não dá conta. Mesmo sabendo que cada pessoa com autismo tem características específicas, segundo Mello (2007), existem comportamentos, sinais que podem ser vistos como comuns do espectro de manifestações autísticas, tais como: dificuldade de comunicação, de sociabilização e de imaginação.
Dados da APAE Brasil estimam a existência de dois milhões de autistas no país, número significativo que sugere, cada vez mais, atenção e cuidado também expressivos em relação ao tema. E é sempre bom lembrar que tanto o diagnóstico quanto o tratamento em relação ao autismo devem ser feitos por profissionais multidisciplinares e qualificados. Nesse contexto, a informação, compreensão, boa vontade e amor por parte das pessoas são fundamentais no combate ao preconceito, à discriminação e exclusão do autista nos processos de interação social.
As diferenças, além de evidenciarem nossa singularidade e incompletude, mostram também a inevitável necessidade de buscarmos uns aos outros. E quer saber o que realmente importa nisso tudo? É nos encontrarmos sempre com humanidade.
Pesquisem mais sobre o tema e sigam sempre respeitando as diferenças!!!

Até a próxima!


Força e sensibilidade sempre!


Professor da Rede Estadual de Ensino, roteirista e produtor audiovisual.


REFERÊNCIAS




AMELINES, Alex. Coisas Fantásticas Acontecem. Disponível em: < http://amazingthingshappen.tv/?projects=coisas-fantasticas-acontecem-brasil>. Acesso em: 23 de mar. 2018.



AMA-Ba. Disponível em: <http://ama-ba.org.br/site/>. Acesso em: 23 de mar. 2018

APAE- Brasil. Número de pessoas com autismo aumenta em todo o Brasil. Disponível em:http://apaebrasil.org.br/noticia/numero-de-pessoas-com-autismo-aumenta-em-todo-o-brasil>. Acesso em: 23 de mar. 2018.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf>. Acesso em: 32 de mar. 2018

FITA QUEBR-CABEÇAS. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Fita_quebra-cabe%C3%A7as>. Acesso em: 23 de mar. 2018.

ICLINIC. CID 10. Disponível em: < https://iclinic.com.br/cid/capitulo/5/grupo/64/categoria/482/> Acesso em: 23 de mar. 2018.

MELLO, Ana Maria S. Ros de, Autismo: guia prático. 5 ed. São Paulo: AMA; Brasília: CORDE, 2007. 104 p.


WIKIPÉDIA. Transtorno do Espectro Autista. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Transtornos_do_espectro_autista>. Acesso em: 23 de mar. 2018.